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8 de setembro de 2009

Timor Leste – celebrar e fazer o balanço 

Da comovente Homenagem aos Heróis em Metinaro, às cerimonias formais em Díli para celebrar os 10 anos do Referendo de 30 de Agosto de 1999, à festa popular com milhares de pessoas a encherem a praça entre o Palácio do Governo e o mar, pela noite fora, a organização foi sempre impecável, bem medida e sem excessivos formalismos (como é pecha em tantos jovens países a diferentes latitudes). E se os líderes timorenses se mostraram seguros mas descontraídos e os funcionários da logística e do protocolo demonstraram aprendizagem profissional, na rua o povo exibiu incrível tranquilidade e, sobretudo, confiança no futuro. Essa confiança é a prova de que Timor Leste não é – como alguns levianamente agoiram em Portugal – um Estado falhado. É um Estado viável, governável e a procurar ser bem governado.

Claro que ainda tem uma parte significativa da população sem emprego (23% da população activa e 40% dos jovens, segundo o censo de 2004 - mas os número reais serão mais elevados) e metade da população a viver com pouco mais de um dólar por dia. Mas em 2008 a economia cresceu 13% e os veteranos, as viúvas e os idosos passaram a receber pensões – para que o povo não continuasse a definhar, enquanto se enchiam os cofres estatais com os proventos do petróleo. E hoje Díli está calma e limpa (na manhã seguinte à festa, o lixo espalhado pela praça e ruas circundantes já tinha sido recolhido), tem jardins e parques infantis onde antes havia tendas de deslocados e fervilha de construção e azáfama. E o mais incrível é como tudo evoluiu velozmente, desde que lá estive em Dezembro de 2008.

Claro que a democracia ainda está a ser aprendida em Timor Leste (e nós, em Portugal, com 35 anos dela, não a estamos ainda a aprender?).
Claro que há tergiversações, erros, abusos, corrupção, prepotências (no próprio dia das celebrações, a Polícia prendeu três manifestantes frente ao Hotel Timor, que clamavam contra a falta de justiça internacional para os crimes de 1999, com um pretexto suharto/salazarento: a manifestação não fora autorizada).
Claro que há riscos - perturbam as proliferantes “ofertas” chinesas, como os novos (e duvidosos) edifícios do MNE e Palácio Presidencial, ou obras essenciais como as centrais de electricidade – não que a tecnologia chinesa seja inadequada ou de má qualidade, mas a questão é o que implicará de volta. Enfim, declarações recentes do Presidente Ramos Horta sugerem que em Timor se conhece o provérbio chinês segundo o qual «o problema não é aproximar-nos do tigre, é saber até onde, não vá ele comer-nos...».

Enfim, importa nesta data não apenas celebrar, mas tirar lições da História para construir o futuro. E a verdade é que sem o Referendo/Consulta Popular de 30 de Agosto de 1999 ainda hoje Timor Leste não seria independente. E sem o Acordo de 5 de Maio, assinado entre Portugal, a Indonésia e a ONU e magistralmente negociado por Jaime Gama, não tinha havido Referendo, nem porventura libertação. Alguns, timoratos, então duvidaram, hesitaram, criticaram (recorde-se o então líder do PSD, Durão Barroso, que até tinha sido bom MNE na questão de Timor). Mas ele há momentos únicos, irrepetíveis, em que é preciso ousar e tudo arriscar para vencer. Se não fosse naquela conjuntura, nunca mais teriam existido condições politicas na Indonésia para se fazer um referendo em Timor Leste. Isso intuíram-no, felizmente, os socialistas Jaime Gama, António Guterres e Jorge Sampaio e os líderes timorenses – todos artífices fundamentais do Referendo de 30 de Agosto de 1999 que libertou Timor Leste da ocupação.

E, 10 anos depois, é tempo de fazer o balanço, não apenas em Díli, mas também em Lisboa. Jaime Gama e António Guterres estiveram agora nas celebrações em Timor Leste e puderam constatar o extraordinário progresso registado desde que lá tinham estado no dia da Independência, a 20 de Maio de 2002. Espero que agora contribuam para que o nosso próximo governo faça o balanço da eficácia da actuação de Portugal em apoio da evolução em Timor Leste desde o Referendo. Fizemos muito, mas podíamos ter feito mais e, sobretudo, podíamos ter feito melhor.

(Artigo que publiquei no Jornal de Leiria em 3.9.09)

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