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1 de abril de 2014

Limpeza a empobrecer 


Dados do INE conhecidos na semana passada são arrasadores da receita austeritária que o Governo quis aplicar em versão mais troikista do que a TROIKA para empobrecer Portugal - propósito que o PM enunciou como virtuoso, contando que nos faria sair da crise.

Pelo contrário, não fizemos consolidação de contas, nem reforma do Estado e não paramos de nos enterrar: 

- Os dados do INE relativos a 2012 mostram que a pobreza se espalhou com o zelo austericida do Governo: um em quatro portugueses passou a ser pobre, a pobreza subiu 25% em apenas 4 anos. E mais de 1 milhão e cem mil portugueses - ou seja mais 200,000 pessoas do que em 2010 - viviam em 2012 em pobreza severa, isto é, sem condições de satisfação de necessidades básicas e de dignidade elementar.

Hoje, dois anos depois, em 2014, a situação é ainda muito mais dramática, com 6% do PIB/ da riqueza nacional destruida, com uma taxa de desemprego real acima dos 15,7% oficiais,  com cerca de 500.000 desempregados sem receber qualquer subsídio. E não é pior porque mais de 300.000 portugueses entretanto emigraram. 

Os dados do INE sobre a pobreza confirmam também que o Governo de Passos Coelho e Portas afinal, quando quer, cumpre: quando é para sacar dinheiro ás classes médias, aos funcionários, aos reformados e aos pobres, quando toca a empobrecer a maioria dos portugueses, cortar-lhes salários, pensões, prestações sociais  e serviços públicos, o Governo não esmorece, implacável.

E encarniçando-se a empobrecer pobres e remediados, o Governo desunha-se a aprofundar e alargar as desigualdades na sociedade portuguesa : não se limita a manter ricos os ricos, mas trata de continuar a enriquecê-los com isenções ficais, a protegê-los com amnistias fiscais, a beneficiar  com rendas obscenas como as que resultam da isenção dos funções imobiliários, da exploração de quase monopólios como  a EDP, ou das rapinantes PPPs  ou ainda com as rendas pagas em consultadorias e pareceres que entrega a gabinetes de advogados, peritos  financeiros, empresas de comunicação, e outras agências privadas para quem transfere decisões, competências e recursos do Estado, enquanto o desnata de funcionários públicos capazes de defender os seus/nossos.

Reparem como ainda há dias o próprio Presidente da República - progenitor, padrinho e enfermeiro de cabeceira da coligação Coelho/Portas - veio reconhecer este fosso e a injustiça de vermos o Governo infligir ainda mais cortes sobre pensionistas e funcionários, enquanto as grandes fortunas e interesses continuam intocáveis. 

O PR reagia à ultima farsa, engendrada pelo anúncio por um Secretário de Estado - que obviamente não falava à revelia da Ministra das Finanças - de estar em preparação mais um brutal ataque aos pobres e à classe média,  prevendo a passagem a definitivos de cortes antes anunciados como provisórios em  pensões, reformas e salários. Claro, é forma do Governo, tal como fez com a TSU, lançar o barro à parede e na mesma cajadada lograr um efeito de choque e pavor para exterminar gente idosa, angustiada e ofendida.

Assim se confirmou que o PM mentia  por cálculo eleitoral, pois por ora convinha-lhe esconder os quase dois mil milhões de cortes que vai ter de integrar no Documento de Estratégia Orçamental para 2015, porque apesar de todos os sucessos que anda a anunciar, o défice não baixou suficientemente e a divida pública não parou de aumentar. Mentia o PM, como mente despudoramente, sempre que for preciso, o seu irrevogável Vice PM, que ainda não veio explicar quantos beneficiários do RSI foram privados de o receber, por serem detentores de 100.000 euros em depósitos, segundo efabulou perante a AR na semana passada.

O mais exasperante, para quem, como eu, anda dentro e fora do país, é notar o efeito da propaganda mentirosa do Governo na imagem que projecta de Portugal no exterior: em vez de fazer compreender a magnitude dos sacrifícios impostos aos portugueses, de fazer entender os desafios com que nos confrontamos, e de renegociar a dívida impagável e um programa de apoio à consolidação das contas e ao cumprimento dos critérios do Tratado Orçamental -  o que supõe investir no crescimento e no emprego em vez de os continuar a destruir - o governo de Passos Coelho-Portas, com eco pressuroso em Durão Barroso, alimenta a narrativa mistificadora da direita alemã, que precisa de ver e de vender Portugal como um caso de sucesso, mesmo que isso suponha que nos enforcam no que chamarão de uma "saída limpa". Limpeza, só se for em mais empobrecimento e destruição do país.


NOTA: texto que escrevi para o meu comentário de hoje no Conselho Superior /ANTENA 1

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