18 de julho de 2014
BES - do temido risco sistémico à pedida supervisão intrusiva
Por Ana Gomes
Os ultimos dias têm sido frenéticos no sistema financeiro nacional, à conta das peripécias registadas na gestão da crise aberta pelo assumir da fraude e bancarrota no Grupo Espirito Santo.
Para salvar o BES evitando uma corrida aos seus balcões, para evitar o contágio sistémico, ou simplesmente para para dar tempo aos Espiritos e seus homens e mulheres de mão, o Governo, o Banco de Portugal, a CMVM e alguns dos seus avençados nos media vão recorrendo aos mais patéticos expedientes - como aquele comunicado do BDP emitido no final da passada semana que pretendia que tudo estava controlado, que o BES tinha uma almofada financeira que chegava para cobrir todas as suas responsabilidades, embora nesse mesmo comunicado houvesse o cuidado de explicitar que isso era "segundo a informação reportada pelo BEs e pelo seu auditor externo, a KPMG". Era demasiado rabo de fora, a denunciar que o gato afinal era um tigre, embora feito do papel comercial sem valor das empresas do Grupo Espírito Santo que o BES vendera ao seus balcões, onde também aconselhara clientes abonados a rentabilizar no seu Banco Privée na Suíça fortunas que hoje não consegue reembolsar.
Que o comunicado não valia o papel em que estava escrito viu-se logo durante o fim-de semana: analistas de outros bancos demonstraram que o BES estava a mentir e o BDP a cobrir e encobrir, porque de facto a exposição do BES às dívidas GES, mesmo sem contar com o buracão do BESA em Angola, é quase o triplo da almofada que o BES afiançava ter.
Para salvar o BES evitando uma corrida aos seus balcões, para evitar o contágio sistémico, ou simplesmente para para dar tempo aos Espiritos e seus homens e mulheres de mão, o Governo, o Banco de Portugal, a CMVM e alguns dos seus avençados nos media vão recorrendo aos mais patéticos expedientes - como aquele comunicado do BDP emitido no final da passada semana que pretendia que tudo estava controlado, que o BES tinha uma almofada financeira que chegava para cobrir todas as suas responsabilidades, embora nesse mesmo comunicado houvesse o cuidado de explicitar que isso era "segundo a informação reportada pelo BEs e pelo seu auditor externo, a KPMG". Era demasiado rabo de fora, a denunciar que o gato afinal era um tigre, embora feito do papel comercial sem valor das empresas do Grupo Espírito Santo que o BES vendera ao seus balcões, onde também aconselhara clientes abonados a rentabilizar no seu Banco Privée na Suíça fortunas que hoje não consegue reembolsar.
Que o comunicado não valia o papel em que estava escrito viu-se logo durante o fim-de semana: analistas de outros bancos demonstraram que o BES estava a mentir e o BDP a cobrir e encobrir, porque de facto a exposição do BES às dívidas GES, mesmo sem contar com o buracão do BESA em Angola, é quase o triplo da almofada que o BES afiançava ter.
Entretanto, credores japoneses do GES obrigaram a família ES a executar garantias, vendendo um quinto da sua participação no BES, o risco sistémico contaminou a reputação e fez subir juros para a República, bancos e outras empresas (nem falo mais da PT que está na ruas da amargura por ter emprestado ao GES, mas do BCP e da Mota-Engil que suspenderam entretanto idas a mercado, e outras, como a Caixa Geral de Depósitos, que avaliam os rombos por imparidades nos empréstimos ao GES), os investidores em todo o mundo recuaram face ao GES e os que investiram, ainda há menos de um menos de um mês, no grande aumento de capital lançado pelo BES/GES sentiram-se ludibriados, as agências de crédito desceram o rating de tudo o que é português e mexe nos mercados financeiros, o Presidente Barroso em Bruxelas disse que estava tudo OK - o que é código decifrado para que realmente nada esteja bem...
A situação era tão alarmante que no domingo a noite, finalmente, "in extremis", o Banco de Portugal ordenou que se concretizasse a mudança que abençoou na administração do BES, para os mercados ontem não afundarem inevitavelmente. Afundaram na mesma, talvez mais paulatinamente, a mostrar como a perda de confiança é profunda, esteja Vitor Bento na administração ou não.
O fragor também teve alcance global, do Financial Times ao Wall Street Journal tudo começou a fazer as exéquias do GES. Até a Senhora Merkel se sentiu inspirada para advogar perseverança na receita austericida recusando flexibilizar regras, à conta do caso BES indiciar que o sistema financeiro europeu ainda não estava firmemente recuperado. E o FMI veio exigir ao Banco de Portugal supervisão intrusiva no BES.
Se não fosse tão trágico para pequenos e grandes depositantes do BES e para o país, dava para rir estas saídas da chanceler alemã e do FMI: o caso BES/GES poderá não ter amplitude para desencadear uma crise financeira global, mas certamente ilustra o colossal falhanço da receita austericida por eles determinada. Ilustra o falhanço da Troika, composta por BCE, CE e FMI, que negligenciou as reformas de fundo que, teoricamente, vinha estimular e ver aplicar no Estado português: como podia haver reformas, deixando intocado o sistema corrupto e indutor de corrupção, despesismo e endividamento, público e privado, em que se centrava a economia de casino? sendo o BES epicentro desse esquema que se alimentou de PPS, swaps, contratos públicos ruinosos para o Estado e privatizações fraudulentas - tudo à conta dos estratagemas de captura de politicos e governantes e media em que Ricardo Salgado e corte se aplicaram.
Merkel insiste na receita punitiva que, realmente, pune quem trabalha e paga cada vez mais pesados impostos ou perdeu o emprego e apoios sociais elementares, enquanto deixou os gangsters de colarinho branco como Ricardo salgado, primos e colaboradores a beneficiar de escandalosas amnistias fiscais continuando a tecer a teia fraudulenta.
A Senhora Lagarde, do FMI que integrava a Troika, veio agora pedir supervisão intrusiva, mas antes não cuidou de ver se o Banco de Portugal exercia sequer uma mínima supervisão, nem da credibilidade e eficácia dos "stress tests" feitos a banca portuguesa. Porque o "abcesso" BES, de que fala o banqueiro Ulrich, só agora rebentou, mas já lá estava, como o. Banco de Portugal e toda a gente sabia, centrado no "Dono Disto Tudo", fazendo o BPN parecer brincadeira de crianças....O FMI sabia que as autoridades portuguesas - Banco de Portugal e Governo - não tinham agido sobre a Lista Lagarde das fortunas portuguesas parqueadas na Suiça em fuga ao fisco, como não tinham agido sobre a Lista do Liechenstein facultada pela Alemanha. Ou, se tinham agido, fora para proteger os evasores através das amnistia fiscais...
O Banco de Portugal foi cúmplice na encenação - nestes microfones, em Janeiro passado, eu expressei a minha indignação por o Banco de Portugal apresentar à Troika um documento em que afiançava estar completada a reforma da Justiça em Portugal! Querem maior encenação, maior farsa, maior fraude?
E indigno-me por o Banco de Portugal e muitos comentadores pretenderem agora que o Banco está finalmente a supervisar adequadamente o BES/GES. Como aqui já fiz notar, o Banco de Portugal foi contratar para fazer auditoria ao BES/GES a KPMG, consultora financeira que desde 2004 era contratada pelo próprio GES para o efeito e que nunca vira que as contas vinham há anos sendo falseadas. A mesmíssima KPMG que, pasmem, também auditava o BESA, onde o buracão ascende a 6 mil milhões:ou seja, o Banco de Portugal fez pontaria para por a raposa a investigar o seu próprio galinheiro assaltado!
No final da semana passado o Governador Carlos Costa sublinhava a importância da "transparência" para resolver agora a crise BES. Pois comece por casa, revelando por que escolheu a KPMG para fazer o trabalho dos quadros do Banco de Portugal e quanto pagaram os contribuintes por isso. E informe se já reportou à PGR para apuramento de responsabilidades os autores das fraudes e outros crimes no BES/GES. E porque tarda em recomendar ao Governo o confisco dos activos que os membros do Grupo Espirito Santo ainda possam deter em Portugal e no exterior, antes que façam como o contabilista de Ricardo Salgado, já a banhos no Brasil a desfrutar dos milhões que o BES transferiu para offshores".
O fragor também teve alcance global, do Financial Times ao Wall Street Journal tudo começou a fazer as exéquias do GES. Até a Senhora Merkel se sentiu inspirada para advogar perseverança na receita austericida recusando flexibilizar regras, à conta do caso BES indiciar que o sistema financeiro europeu ainda não estava firmemente recuperado. E o FMI veio exigir ao Banco de Portugal supervisão intrusiva no BES.
Se não fosse tão trágico para pequenos e grandes depositantes do BES e para o país, dava para rir estas saídas da chanceler alemã e do FMI: o caso BES/GES poderá não ter amplitude para desencadear uma crise financeira global, mas certamente ilustra o colossal falhanço da receita austericida por eles determinada. Ilustra o falhanço da Troika, composta por BCE, CE e FMI, que negligenciou as reformas de fundo que, teoricamente, vinha estimular e ver aplicar no Estado português: como podia haver reformas, deixando intocado o sistema corrupto e indutor de corrupção, despesismo e endividamento, público e privado, em que se centrava a economia de casino? sendo o BES epicentro desse esquema que se alimentou de PPS, swaps, contratos públicos ruinosos para o Estado e privatizações fraudulentas - tudo à conta dos estratagemas de captura de politicos e governantes e media em que Ricardo Salgado e corte se aplicaram.
Merkel insiste na receita punitiva que, realmente, pune quem trabalha e paga cada vez mais pesados impostos ou perdeu o emprego e apoios sociais elementares, enquanto deixou os gangsters de colarinho branco como Ricardo salgado, primos e colaboradores a beneficiar de escandalosas amnistias fiscais continuando a tecer a teia fraudulenta.
A Senhora Lagarde, do FMI que integrava a Troika, veio agora pedir supervisão intrusiva, mas antes não cuidou de ver se o Banco de Portugal exercia sequer uma mínima supervisão, nem da credibilidade e eficácia dos "stress tests" feitos a banca portuguesa. Porque o "abcesso" BES, de que fala o banqueiro Ulrich, só agora rebentou, mas já lá estava, como o. Banco de Portugal e toda a gente sabia, centrado no "Dono Disto Tudo", fazendo o BPN parecer brincadeira de crianças....O FMI sabia que as autoridades portuguesas - Banco de Portugal e Governo - não tinham agido sobre a Lista Lagarde das fortunas portuguesas parqueadas na Suiça em fuga ao fisco, como não tinham agido sobre a Lista do Liechenstein facultada pela Alemanha. Ou, se tinham agido, fora para proteger os evasores através das amnistia fiscais...
O Banco de Portugal foi cúmplice na encenação - nestes microfones, em Janeiro passado, eu expressei a minha indignação por o Banco de Portugal apresentar à Troika um documento em que afiançava estar completada a reforma da Justiça em Portugal! Querem maior encenação, maior farsa, maior fraude?
E indigno-me por o Banco de Portugal e muitos comentadores pretenderem agora que o Banco está finalmente a supervisar adequadamente o BES/GES. Como aqui já fiz notar, o Banco de Portugal foi contratar para fazer auditoria ao BES/GES a KPMG, consultora financeira que desde 2004 era contratada pelo próprio GES para o efeito e que nunca vira que as contas vinham há anos sendo falseadas. A mesmíssima KPMG que, pasmem, também auditava o BESA, onde o buracão ascende a 6 mil milhões:ou seja, o Banco de Portugal fez pontaria para por a raposa a investigar o seu próprio galinheiro assaltado!
No final da semana passado o Governador Carlos Costa sublinhava a importância da "transparência" para resolver agora a crise BES. Pois comece por casa, revelando por que escolheu a KPMG para fazer o trabalho dos quadros do Banco de Portugal e quanto pagaram os contribuintes por isso. E informe se já reportou à PGR para apuramento de responsabilidades os autores das fraudes e outros crimes no BES/GES. E porque tarda em recomendar ao Governo o confisco dos activos que os membros do Grupo Espirito Santo ainda possam deter em Portugal e no exterior, antes que façam como o contabilista de Ricardo Salgado, já a banhos no Brasil a desfrutar dos milhões que o BES transferiu para offshores".
(Notas da minha crónica no Conselho Superior, Antena 1, no passado dia 15 de Julho)