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29 de setembro de 2008

1º debate: Obama convenceu 

John McCain deu o dito por não dito e apareceu, afinal, no debate. Que foi esclarecedor: na economia e na política externa ficaram nítidas as diferenças entre os candidatos.
Obama privilegia a redistribuição através dos impostos para salvar a classe média e promete seleccionar as despesas do Estado a reduzir, para relançar a economia com reformas estruturais: investimento nas energias alternativas, reforço do sistema educativo, reforma dos serviços de saúde, redução das despesas de guerra em favor da “inteligencia humana” necessária contra o terrorismo e a proliferação nuclear. Para ele a crise resulta das políticas desreguladoras de Bush que Mc Cain sempre apoiou. Quer ajuda urgente a quem está em risco de perder as casas por causa dos empréstimos “tóxicos” da banca e opõe-se a que os contribuintes gastem mais em “paraquedas dourados” para os executivos que levaram Wall Street à bancarrota.
McCain continua atido à política de cortar impostos que beneficia sobretudo os ricos, a pretexto de ajudar as empresas. Aposta na redução drástica das despesas do Estado. Furar os EUA a procurar petróleo é a sua receita para reduzir a dependência energética do exterior. Mas também se opõe a que os executivos financeiros saquem mais dinheiro ao Estado – denuncia mesmo a corrupção e criminalidade por detrás da ganância, excessos e falta de supervisão que levaram à crise em Wall Street (chato, muito chato para os neo-liberais lusos que teimam em ver na origem da crise políticas “socialistas” de promoção da propriedade imobiliária...). Ambos candidatos concorrem agora na necessidade de mais intervenção estatal sobre a actividade financeira, mais regulação e supervisão.
Na politica externa, McCain invoca a sua experiência para rotular Obama de ingenuidade, mas este não se fica e denuncia o falhanço das políticas de Bush que McCain sempre apoiou: a invasão do Iraque, que reforçou o Irão e desviou meios da captura de Bin Laden e do Afeganistão, abrindo o caminho à Al Qaeda no Iraque; o apoio à ditadura de Musharaff que tornou a ameaça de proliferação nuclear mais acessível aos terroristas e os reforçou no Afeganistão e Paquistão; a recusa de dialogar com o “eixo do mal” que só estimulou Teerão e Piongyang a prosseguirem a aquisição de armas nucleares; o retorno da atitude “guerra-fria” que McCaine advoga face à Russia, a pretexto da Geórgia. Um McCain que embuchou quando Obama lhe recordou que pusera em causa receber um aliado NATO, Zapatero.
Ambos os candidatos concordaram, no entanto, que os EUA precisam de recuperar credibilidade no mundo e para isso é fundamental acabar com a tortura em que Bush os enlameou (chato, muito chato para o embaixador americano em Portugal, que acha que é tudo invenção....).
O debate não teve o drama de outros, porque nenhum dos candidatos escorregou, como alguns no passado, frente às câmaras da televisão.
Mas produziu um ganhador: Barack Obama. Embora com menos traquejo nas técnicas do debate, a calma, o conhecimento dos temas, a capacidade de ser ofensivo sem ser agressivo, tornaram-no convicente e “presidencial”.
O perdedor foi John McCain, que era quem precisava de ganhar com vantagem este debate, no final de uma semana desastrosa. Surgiu agressivo, paternalista e agarrado ao passado. E na economia, sobretudo, não convenceu sequer os seus próprios apoiantes. E a economia é, sem dúvida, o que agora mais preocupa os eleitores americanos.

(parte deste meu texto foi publicado no Jornal de Noticias a 28.9.08)

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