1 de setembro de 2008
Completa rendição a Obama
por Ana Gomes
Desci a rampa do estádio, em Denver, rodeada de gente que ria, sorria ou chorava, largando interjeições emocionadas: "Oh my God! We've got to elect him." "He is great, great, great!" "He must be President!" Eu estava sem fala e dava-me também para sorrir, cabeça e coração fervilhantes de admiração, contentamento e esperança. Não era só da excitação de sentir que estava a assistir à história e ao sonho de Martin Luther King a realizar-se.
A coreografia da sessão final da convenção do Partido Democrático para o discurso de aceitação do candidato fora impecável e espectacular, diante de uma moldura compacta de 75.000 pessoas (nunca vista na América), revelando a meticulosa organização da campanha.
Mas o que pusera o estádio em delírio fora o discurso galvanizador de Barack Obama. Um discurso em tom lincolniano, ora intimista, ora aguerrido, em que Obama afirmou magistralmente de onde vinha, ao que vinha e por que vinha. E o que o diferenciava do opositor McCain: experiência de vida, valores, julgamento e programa. Sem receio de tocar nos temas mais sensíveis: do controlo das armas ao patriotismo, do aborto aos direitos dos homossexuais. Anunciando medidas e assumindo compromissos: sobre a recuperação da economia através duma revolução energética; sobre o apoio social do Estado aos cidadãos; sobre a diplomacia reforçada e a construção de parcerias internacionais para combater as ameaças à segurança americana e global, do terrorismo à pobreza, das pandemias às alterações climáticas; sobre o mundo livre de armas nucleares por que trabalhará; sobre a recuperação da credibilidade internacional dos EUA e o retorno ao respeito pela Constituição americana.
"Esta eleição nunca foi sobre mim: é sobre vocês!" (...). "A mudança não vem de Washington, vai para Washington, porque o povo americano a exige" (...). "O que nos faz ricos não é a riqueza, o que nos faz fortes não é o poderio militar, tecnológico, ou as melhores universidades do mundo; mas sim o espírito americano que nos une, apesar das diferenças, e que nos impele a avançar para o futuro juntos, sem desistir da esperança."
A audiência estava presa pela garra, sensibilidade, patriotismo, humanidade, determinação e extraordinária capacidade de comunicar de Obama. As adversidades por que passou e o percurso político até chegar a esta campanha mostram que não é de plástico; nem de aviário, atamancado por uma qualquer aparelhagem partidária. A qualidade do que propõe revela substância, convicções, reflexão, visão estratégica, disciplina e muito, muito trabalho por detrás, dele e da sua equipa. Obama é um líder progressista de tipo novo: inspira confiança, inspira orgulho, inspira as pessoas puxando pelo que nelas há de melhor. Os americanos têm de o eleger: todos ficaremos a ganhar. Porque a grande mudança que Obama quer trazer à América porá ao alcance de toda a humanidade um mundo melhor, mais seguro e mais justo.
Público, 30 de Agosto de 2008
Desci a rampa do estádio, em Denver, rodeada de gente que ria, sorria ou chorava, largando interjeições emocionadas: "Oh my God! We've got to elect him." "He is great, great, great!" "He must be President!" Eu estava sem fala e dava-me também para sorrir, cabeça e coração fervilhantes de admiração, contentamento e esperança. Não era só da excitação de sentir que estava a assistir à história e ao sonho de Martin Luther King a realizar-se.
A coreografia da sessão final da convenção do Partido Democrático para o discurso de aceitação do candidato fora impecável e espectacular, diante de uma moldura compacta de 75.000 pessoas (nunca vista na América), revelando a meticulosa organização da campanha.
Mas o que pusera o estádio em delírio fora o discurso galvanizador de Barack Obama. Um discurso em tom lincolniano, ora intimista, ora aguerrido, em que Obama afirmou magistralmente de onde vinha, ao que vinha e por que vinha. E o que o diferenciava do opositor McCain: experiência de vida, valores, julgamento e programa. Sem receio de tocar nos temas mais sensíveis: do controlo das armas ao patriotismo, do aborto aos direitos dos homossexuais. Anunciando medidas e assumindo compromissos: sobre a recuperação da economia através duma revolução energética; sobre o apoio social do Estado aos cidadãos; sobre a diplomacia reforçada e a construção de parcerias internacionais para combater as ameaças à segurança americana e global, do terrorismo à pobreza, das pandemias às alterações climáticas; sobre o mundo livre de armas nucleares por que trabalhará; sobre a recuperação da credibilidade internacional dos EUA e o retorno ao respeito pela Constituição americana.
"Esta eleição nunca foi sobre mim: é sobre vocês!" (...). "A mudança não vem de Washington, vai para Washington, porque o povo americano a exige" (...). "O que nos faz ricos não é a riqueza, o que nos faz fortes não é o poderio militar, tecnológico, ou as melhores universidades do mundo; mas sim o espírito americano que nos une, apesar das diferenças, e que nos impele a avançar para o futuro juntos, sem desistir da esperança."
A audiência estava presa pela garra, sensibilidade, patriotismo, humanidade, determinação e extraordinária capacidade de comunicar de Obama. As adversidades por que passou e o percurso político até chegar a esta campanha mostram que não é de plástico; nem de aviário, atamancado por uma qualquer aparelhagem partidária. A qualidade do que propõe revela substância, convicções, reflexão, visão estratégica, disciplina e muito, muito trabalho por detrás, dele e da sua equipa. Obama é um líder progressista de tipo novo: inspira confiança, inspira orgulho, inspira as pessoas puxando pelo que nelas há de melhor. Os americanos têm de o eleger: todos ficaremos a ganhar. Porque a grande mudança que Obama quer trazer à América porá ao alcance de toda a humanidade um mundo melhor, mais seguro e mais justo.
Público, 30 de Agosto de 2008