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1 de setembro de 2008

Democratas decididos a restaurar a imagem e a liderança dos EUA no mundo 

por Ana Gomes

Na véspera do 45.º aniversário do Reverendo Martin Luther King ter emocionado a América com um discurso começado pelas palavras I have a dream, descrevendo o sonho de uma sociedade sem segregação racial, o negro de nome árabe Barack Hussein Obama foi nomeado candidato à presidência dos EUA, por aclamação dos delegados à Convenção do Partido Democrata.
O sonho está a cumprir-se.
E a consciência da grandeza do salto histórico, de que eram actores nesse momento de apoteose, fez correr lágrimas pelas faces de muitos delegados.O partido mostrou já entender que precisa de se unir para partir com redobrada energia para a última jornada do combate que visa "recuperar o país" e "operar a mudança" proposta por Obama e tornada indispensável por oito anos de desastroso desgoverno.
Hillary, num discurso electrizante, e Bill Clinton e John Kerry protagonizaram o apelo à união em torno de Obama e Joe Biden e refutaram convincentemente as acusações de impreparação e inexperiência que a propaganda republicana tem procurado colar a Obama.
"Recuperar o país" implica para os democratas também restaurar a imagem e a liderança dos EUA no mundo: porque sem recuperar a credibilidade moral e política através da exorcização de Guantánamo e da tortura (prioridade de uma Administração Obama, segundo Richard Holbrooke), sem voltar a "liderar pelo exemplo" nos direitos humanos, no respeito pela lei e sem se empenharem no diálogo e articulação diplomática com aliados e parceiros, os EUA não poderão liderar, nem promover a democracia (que não se "impõe", frizou Madeleine Albright), nem sequer garantir a sua própria segurança, quanto mais a global. Isso mesmo martelaram Albright, Holbrooke, Tom Daschle, Tim Wirth, Joe Biden e outros especialistas em assuntos internacionais.Contra as ilusórias "alianças de democracias" propostas por McCain, os democratas preferem reinvestir na ONU e outras instituições multilaterais que "funcionaram sempre que os EUA se empenharam". Pela segurança global também identificam hoje tanto a necessidade de combater a pobreza no mundo (tema de um debate promovido à margem da Convenção pelo NDI, Instituto de Assuntos Internacionais - "impensável há dez anos", sublinhou Albright), como a de mobilizar esforços para travar as mudanças climáticas. Este último tema é também determinante para outro projecto que galvaniza os democratas: a necessidade de os EUA reduzirem rapidamente a dependência do petróleo importado ("temos de cessar o absurdo de pedirmos dinheiro emprestado à China para comprar petróleo aos sauditas", sublinhou Hillary), investindo em tecnologias que assegurem eficiência energética e fontes de energia alternativas, renováveis e limpas. Um projecto que vai além do desígnio de alavancar a recuperação da economia americana, incluindo a criação de emprego qualificado (como o Estado do Colorado já exemplarmente protagoniza): tem inevitáveis consequências para a política externa americana em todos os azimutes e, de facto, para a segurança e a economia de todo o planeta.

Público, 29 de Agosto de 2008

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