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27 de novembro de 2008

"Reorganização da Esquerda" 

Eis as minhas respostas a um inquérito da jornalista Hermana Cruz, do Jornal de Notícias (23-11-2008):

1- Parece-lhe que está para breve uma reorganização da Esquerda? Parece-lhe inevitável?

R. Não me parece inevitável nem sequer provável. O espaço da esquerda está plenamente ocupado em termos partidários, desde o centro esquerda à extrema-esquerda. E também não vejo condições para dissidências organizadas em nenhum dos actuais partidos (embora a coesão política do BE não seja um dado adquirido, dada a heterogeneidade ideológica das suas origens). Há seguramente pequenas franjas marginais que não se revêem no actual espectro partidário, mas que não têm expressão orgânica digna desse nome, como a “refundação comunista”, ou que nem sequer chegaram a criá-la, como o movimento de apoio à candidatura presidencial de Manuel Alegre.

2- Que tipo de organização prevê? O surgimento de um novo partido? Composto por quem? Por dissidentes do PS, BE e PCP?

R. Não prevejo nenhum novo partido, nem vejo que utilidade teria uma organização política de outro tipo. Apesar de pouco provável, a única corrente que poderia tentar organizar-se politicamente seria justamente a que poderia ser dinamizada por Manuel Alegre, se este fosse tocado pela “revelação” a que se referiu numa entrevista recente. Quando à sua composição, não creio que fosse roubar muita gente aos partidos estabelecidos, sendo as pessoas sem filiação partidária o seu espaço de atracção previsível. Mas nesse tipo de organizações há sempre “mais chefes do que índios”.

3- Que efeitos um cenário desses poderia ter no PS e até nas pretensões do Centro-Direita regressar ao poder?

R. Não creio que nenhum novo partido à esquerda tenha reais possibilidades de vingar, mesmo que o PCP lhe emprestasse o seu discreto apoio, só para prejudicar o PS, como sucedeu com o PRD há 20 anos. Será sempre um fogacho efémero. Em todo o caso, uma nova força política que se constituísse entre o PS e os dois partidos da esquerda antiliberal não poderia aspirar a muito espaço, muito menos em termos eleitorais. Apesar disso, num primeiro momento poderia causar sérios estragos eleitorais ao PS (e alguns aos dois outros partidos), acabando portanto por beneficiar sobretudo a direita.

4- Quem poderia ser o rosto dessa nova Esquerda? Manuel Alegre? Carvalho da Silva?

R. Suponho que só o primeiro pode estar a pensar nisso, não sei se com alguma convicção. Carvalho da Silva não vai cortar com o PCP e não tem real apelo político fora dos sindicatos comunistas. Poderia ser uma alternativa menos ortodoxa à actual direcção do PCP, mas também por esse lado não se vislumbra nenhuma saída...

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