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21 de maio de 2013

A remendação governamental 

Conselho Superior, Antena 1

 16 de Abril de 2013

 

 

Não foi,  de facto, uma remodelação governamental o que aconteceu na semana passada. Qualquer remodelação substantiva passaria por mudar o Ministro das Finanças, que é quem define a política deste governo, no plano interno e no plano europeu. 


O que aconteceu foi uma mal alinhavada remendação, uma tão mal alinhavada remendação que logo o parceiro menor da coligação governamental veio a terreiro expor criticas e frustrações, exigindo uma segunda ronda de mudanças nas pastas governamentais, e denunciando (como há muito a oposição denuncia) que não há direcção na economia, que tudo está na subordinado às finanças....

 

E para marcar bem a irritação, o CDS veio pôr diversas armas no terreiro a disparar, enquanto o seu líder, Paulo Portas, optou por não pôr os pés na cerimónia de posse dos novos membros do Governo.

 

Paulo Portas e o CDS afinam as capacidades equilibristas: deles depende em absoluto a continuação deste Governo. Mas também já lançam escadas, abertamente, ao PS. Eu - que há muito venho dizendo que é necessário eleições e depois um governo de base parlamentar tão abrangente quanto possível no espectro partidário da esquerda à direita, para renegociarmos fundo e forte na Europa -  nada tenho contra um acordo que inclua aquela parte do CDS que se arrepela com a politica ultraliberal de Passos Coelho. Só previno: qualquer entendimento do PS com o CDS não poderá nunca assentar em garantias de imunidade para quem quer que seja, incluído Paulo Portas, quanto ao apuramento de responsabilidades sobre contratos passados. Estou obviamente a pensar no caso dos submarinos e outras corruptas aquisições públicas.

 

Ainda é cedo para estas prevenções: ainda é preciso que antes caía o Governo; e o que o Presidente da República acorde em Belém e assuma as suas responsabilidades, pois o regular funcionamento das instituições democráticas não está assegurado quando se vê o Primeiro Ministro a atacar o órgão de soberania que é o Tribunal Constitucional; ou quando se vê o parceiro menor da coligação a disparar sobre o Governo, que teoricamente suporta; ou, ainda, quando se vê o Governo a tolerar sem reparo inaceitáveis comentários do Ministro alemão sobre as consequências da decisão do Tribunal Constitucional; ou ainda, quando se vê o Ministro Finanças a agir e a ser publicamente exposto no estrangeiro como alto Comissário da Troika e do Ministro das Finanças alemão em Portugal (foii assim que ele foi visto na recente reunião do Eurogrupo em Dublin: mais Troikista do que a Troika, na defesa da austeridade custe o que custar). 

 

Eu não acho que seja cedo. Penso que é agora que o futuro entendimento governamental pós-eleições já se está a tecer, tal como na Europa se já estão a tecer as linhas com que a UE se há-de se cozer,  depois das eleições alemãs. Com ou sem remendação deste Governo, que não tem conserto, e só desgovernará mais, vemos o plano B que fez sair à pressão e que, no fundo, é decalcado do plano A do FMI. Um plano que não vai poder concretizar-se: os 600 milhões, mais 600 milhões, mais 4 mil milhões de cortes na função pública, na saúde, na educação e na segurança social não são exequíveis. Como nós, portugueses, funcionários públicos ou não, trataremos de demonstrar.

 

Este é o momento para nos voltarmos, por todos os meios, para os credores e parceiros europeus: é isto que o PS já está a fazer como aconteceu à margem da cimeira europeia de Dublin. É preciso fazer ver que a receita da austeridade punitiva criou um desastre e não foi por falta de bebermos o cálice da Troika/Portas, Portas, Gaspar e Passos até à última gota... Não foi por isso que o remédio não surtiu efeito. O remédio não surtiu efeito porque a poção está envenenada. E nós não podemos mais beber dela, sobre pena de nos matarem o país.


Neste momento, a Grécia exige no Tribunal Internacional de Justiça reparações de guuerra que a Alemanha nunca lhe pagou depois da II Guerra Mundial. 

Nós não temos reparações de guerra a exigir, mas temos reparações de Troika a contabilizar e a cobrar!  Temos nós e tem a Europa.

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